Hoje chegamos ao fim da nossa série de posts com trechos de Aspectos do Romance. O excerto derradeiro é, claro, da última parte, intitulada IX - Conclusão. Assim como os anteriores, a tradução é de Maria Helena Martins (editora Globo, 1998).
"É uma tentação concluir por especulações quanto ao futuro do romance: tornar-se-á mais ou menos realístico? Será morto pelo cinema? E assim por diante. As especulações, sejam tristes ou cheias de vida, sempre dão uma impressão de amplitude, são uma maneira muito conveniente de ser últil ou solene. Mas não temos qualquer direito de fazê-las. Recusamo-nos a ser enredados pelo passado; assim, não devemos tirar partido do futuro. Visualizamos os romancistas dos dois últimos séculos todos escrevendo juntos numa sala, sujeitos às mesmas emoções, colocando os acidentes de sua época no cadinho da inspiração e, sejam quais forem os resultados, o nosso método foi válido - válido para uma assembléia de pseudo-eruditos como nós. Mas devemos visualizar os romancistas dos dois próximos séculos, também como escrevendo numa sala. A mudança em seus assuntos será enorme; eles não mudarão. Podemos domar o átomo, podemos desembarcar na lua, podemos abolir ou intensificar a guerra, o processo mental dos animais pode ser compreendido: mas tudo isso são ninharias, pertencem à História e não à Arte. A História se desenvolve, a Arte permanece. O romancista do futuro terá que passar todos os fatos novos através dos velho, embora variável, mecanismo da mente criadora." (págs. 155 e 156)
Confira também: Lendo Aspectos do Romance - Parte I;
Lendo Aspectos do Romance - Parte VIII.
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