No antepenúltimo post da série, destaco dois trechos da Parte VII - Profecia.
"Devemos prestar atenção ao estado de ânimo do romancista e às próprias palavras que ele usa; devemos negligenciar, tanto quanto possível, os problemas de senso comum. [...] Antes de o condenarmos por afetação e distorção devemos perceber seu ponto de vista. [...] Nós só vemos o que ele não está focando - o que está focando, não vemos - e, na nossa cegueira, rimo-nos dele". (pág. 116)
"Dissera que cada aspecto do romance requer uma qualidade diferente do leitor. Bem, o aspecto profético requer duas qualidades: humildade e a suspensão do sense of humour. A humildade é uma qualidade para a qual tenho apenas uma admiração limitada. Em muitas fases da vida é um grande equívoco e degenera em atitude defensiva ou hipocrisia. Mas a humildade cabe exatamente agora. Sem sua ajuda não ouviremos a voz do profeta, e nossos olhos contemplarão uma figura burlesca, em lugar de sua glorificação. E o sense of humour está agora fora de lugar: este estimável acessório do homem educado deve ser posto de lado. Como as crianças na Bíblia, não se pode deixar de rir de um profeta - sua cabeça calva é tão absurda! - mas, se pudermos dispensar o riso, perceberemos que não tem nenhum valor crítico e é simples alimento para pessoas vulgares." (pág. 116)
A tradução é de Maria Helena Martins, publicada pela editora Globo em 1998.
Confira também: Lendo Aspectos do Romance - Parte I;
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