quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A Room with a View (2007)

O casal George Emerson (Rafe Spall) e Lucy Honeychurch (Elaine Cassidy), em Florença. 


Este texto contém alguns spoilers.

Recentemente, assisti a adaptação de 2007 de A Room With a View. Durante longo tempo, aguardei por legendas que nunca chegaram e então decidi apreciar o longa assim mesmo. Começo minha modesta avaliação considerando que o filme não supera a adaptação de 1985 em absolutamente nada, mas prometo que vou evitar ao máximo analisar o longa por meio de comparações. 

O filme para TV tem direção de Nicholas Renton, cujo currículo é composto por muitos telefilmes e séries, e roteiro adaptado por Andrew Davies, responsável por uma das minhas minisséries favoritas, Pride and Prejudice (1995). O enredo começa com Lucy Honeychurch (Elaine Cassidy) retornando à Florença, após a morte do seu amado George Emerson (Rafe Spall). Antes de assistir, eu já tinha conhecimento da morte do personagem na guerra, mas isso não abreviou minha incredulidade a respeito dessa decisão de roteiro tão inexplicável. Qual a necessidade de abrir mão do final feliz do livro? Foi impossível não pensar em Mr. Emerson e se compadecer dele. 

Rafe e Timothy Spall: pai e filho na vida real e na ficção.
Sabemos que 50 anos após a publicação de A Room with a View, E. M. Forster escreveu um apêndice que costuma ser fornecido em algumas edições do livro (leia completo aqui). Nesse texto suplementar tardio, ele conta o que ocorreu com os principais personagens após os eventos do romance. Se George perdesse a vida nesse apêndice, sua morte no filme seria um pouco menos intragável, mas isso não acontece. As únicas mortes registradas são as de seu pai, Mr. Emerson, de Charlotte Bartlett e da Sra. Honeychurch. Como o próprio Forster diz: "... George e Lucy esperam pela Terceira Guerra Mundial - a guerra para acabar com a guerra e com todo o resto também." 

Já que citei os Emerson, aproveito para dizer que apreciei as interpretações de Rafe Spall - seu George é adorável - e de Timothy Spall, como Mr. Emerson. Foi a primeira vez que os atores, pai e filho na "vida real", contracenaram juntos. Sobre Elaine Cassidy como Lucy não há muito o que falar. A atriz irlandesa é muito competente (vide Fingersmith, de 2005), mas nesta produção entrega apenas uma atuação adequada, com raros momentos de brilho e vivacidade. O Cecil Vyse de Laurence Fox, por sua vez, parece menos insuportável e caricato que o de Daniel Day-Lewis no filme de 1985, porém deixa a sensação de ter sido pouco desenvolvido. Sem citar a sequência do término do noivado, que foi simplificada ao ponto de soar bastante inverossímil. 

Nesta adaptação, me surpreendeu e agradou o fato do clérigo Mr. Beebe (Mark Williams) ser claramente homossexual. Em todo o longa, duas cenas deixam isso perceptível. Aliás, o ator Mark Williams poderia tranquilamente interpretar E. M. Forster numa produção cinematográfica, visto que remete à aparência do escritor em idade já um pouco avançada. Outra adição que me surpreendeu foi a cena de sexo de Lucy e George já próximo ao desfecho, que pode ser considerada ousada para uma adaptação forsteriana. 


Miss Lavish (Sinéad Cusack), Lucy Honeychurch (Elaine Cassidy) e Mr. Beebe (Mark Williams).


Duas cenas marcantes para mim - uma pela relevância para a história e outra pelo tom de humor - são apresentadas de forma bem decepcionante. A cena do primeiro beijo entre Lucy e George não atinge o encanto e magnetismo que a situação exige, além do ato em si ser um pouco desengonçado, ao menos no início. Já a cena de Mr. Beebe rastejando nu para fora do lago e sendo flagrado por Lucy e sua mãe foi excessivamente comedida e por isso despida de humor. 

Toda a linha do tempo intercala cenas do presente e do passado. Se não fosse pela morte de George, este seria um conceito envolvente. Imagine Lucy passeando por Florença, rememorando a viagem em que conheceu seu futuro marido e depois George - vivo, é claro - indo encontrá-la em Fiesole, onde se beijaram pela primeira vez? Não seria encantador?

O orçamento claramente limitado transparece nos cenários e figurinos, mas isso já é esperado de filmes para TV e não é um dos fatores que maculam a produção. No geral, o resultado é pálido e falho, com mais pontos negativos que positivos. Seguramente, aquela escolha de roteiro relativa a George Emerson contribui e muito para a impressão de que poderia ter sido muito melhor. 



Em tempo: Anos atrás, disponibilizei o filme completo no canal do blog no YouTube, mas a plataforma o excluiu por reivindicação de direitos autorais. No momento, constam no canal dois trailers do filme. Confira um deles, acima. 

Imagens: The Elaine Cassidy Site

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