Hoje, destaco três trechos da Parte V - O Enredo, de Aspectos do Romance. Todos pertinentes e instigantes, com vários questionamentos sobre enredo, história e a construção do romance.
"No drama, toda a felicidade e miséria humanas devem tomar a forma de ação; de outro modo sua existência permaneceria desconhecida. É esta a grande diferença entre o drama e o romance." (págs. 81 e 82)
"Vamos definir um enredo. Definiremos a história como uma narrativa de acontecimentos dispostos em sua sequência no tempo. Um enredo é também uma narrativa de acontecimentos, cuja ênfase recai sobre a causalidade. 'O rei morreu e depois a rainha' - isto é uma história. 'Morreu o rei, e depois a rainha morreu de pesar' é um enredo. A sequência no tempo é preservada, mas o sentido de causalidade obscurece-a. Ou vejamos: 'A rainha morreu, ninguém sabia por quê, até descobrir-se que fora de pesar pela morte do rei'. Este é um enredo com um mistério, uma fórmula capaz de desenvolvimento superior. Suspende a sequência no tempo, afasta-se tanto da história quanto as suas limitações permitirem-no. Consideremos a morte da rainha: numa história diríamos - 'e depois?'; num enredo - 'Por quê?'. Esta é a diferença fundamental emtre esses dois aspectos do romance." (págs. 83 e 84)
"Afinal de contas, por que um romance tem de ser planejado? Não pode crescer naturalmente? Por que precisa ter fecho, como uma drama? Não pode ser deixado aberto? Em lugar de permanecer acima de sua obra e controlando-a, não pode o romancista imbuir-se nela e deixar-se levar para um objetivo imprevisto? O enredo é emocionante e pode ser belo. Não será, todavia, um fetiche tomado de empréstimo do drama, das limitações espaciais do palco? Não pode a ficção inventar uma estrutura que não seja tão lógica, embora mais adequada à sua índole?" (págs. 92 e 93)
A tradução é de Maria Helena Martins, publicada pela editora Globo em 1998.
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