Divulgação da prèmiere mundial, com presença da princesa Diana. |
A maior qualidade do longa - que no Brasil recebeu o título de Por Onde os Anjos Não Passam - é a fidelidade do roteiro à obra original, que não se resume apenas à espinha dorsal da história, mas contempla vários detalhes que fazem a diferença no resultado final.
Como grande apreciador de adaptações fiéis às obras literárias foi impossível não estimar imensamente esta digna produção. Where Angels Fear to Tread, o livro, não contém um enredo muito movimentado e o roteiro do filme reflete essa particularidade, não tendo trilhado o caminho de invencionices para acrescentar fatos alheios à obra original. Muitos podem achá-lo morno e tedioso, mas como adaptação é simplesmente impecável.
Como grande apreciador de adaptações fiéis às obras literárias foi impossível não estimar imensamente esta digna produção. Where Angels Fear to Tread, o livro, não contém um enredo muito movimentado e o roteiro do filme reflete essa particularidade, não tendo trilhado o caminho de invencionices para acrescentar fatos alheios à obra original. Muitos podem achá-lo morno e tedioso, mas como adaptação é simplesmente impecável.
O elenco traz nomes já familiares às adaptações forsterianas, como Helena Bonham Carter, Rupert Graves e Judy Davis. Os dois primeiros já haviam nos brindado com atuações em A Room with a View e Maurice, enquanto a última esteve em A Passage to India (1984). O trio é um dos maiores trunfos do filme e os demais nomes do elenco, como Helen Mirren, também estão irrepreensíveis na película. A representação de Caroline Abbott (Helena Bonham Carter) é flagrantemente coerente com a personagem do livro:
Além disso, a evolução de sua personagem é desenvolvida de forma eficiente.
"[...] quieta, monótona [...] não havia nada em sua aparência ou maneiras que sugerisse o fogo da juventude." (capítulo II)
Mirren dá vida a uma Lilia Herriton de idade um pouco mais avançada que a do romance. A atriz já tinha 46 anos quando interpretou a viúva de 33 anos, porém esse detalhe não faz diferença significativa na representação da personagem, que é uma das mais fascinantes. Já Rupert Graves estava em idade compatível com a do personagem do livro, mas o mesmo não se pode dizer acerca da sua beleza.
"[Philip Herriton] tinha uma testa bonita e um bom nariz grande [...] Mas abaixo do nariz e dos olhos tudo era confusão, e aquelas pessoas que acreditavam que o destino reside na boca e no queixo balançavam a cabeça quando olhavam para ele." (capítulo V)
Graves não compartilha de tal aparência com Philip, mas isso não é nenhum problema. Diferentemente do que acontece nas adaptações forsterianas em que havia já participado, nesta o ator tem bastante tempo de tela. Ele desfruta da oportunidade com sabedoria, visto que sua atuação como o contraditório filho da família Herriton é um dos grandes destaques do filme.
A Harriet Herriton de Judy Davis é tão ou até mais irritante e histérica quanto a criação de Forster, também provocando algumas risadas em momentos pontuais. A cena em que a personagem retira um quadro de uma santa que decorava seu quarto no Hotel Stella d'Italia e o observa com reprovação, escondendo-o em seguida embaixo da cama, é bastante simbólica de sua personalidade intransigente. Com seu olhar expressivo, o ator italiano Giovanni Guidelli entrega uma atuação totalmente condizente com o Gino Carella do livro, despertando impressões paradoxais no espectador: péssimo marido, bom pai, agressivo, honesto, amoroso... Gino concentra tudo isso e pode ser considerado um personagem marcado pela incógnita.
Um detalhe da caracterização que pode parecer desimportante, mas que me incomodou, foi o estilo de penteado escolhido para as personagens Caroline Abbott (Helena Bonham Carter) e Harriet Herriton (Judy Davis), que envelheceu as atrizes de forma demasiada. Felizmente Lilia (Helen Mirren) não padece desse infortúnio. Os figurinos não são tão luxuosos quanto os de A Room with a View (1985), por exemplo, mas não deixam a desejar, contribuindo para a eficiente reconstituição histórica.
Falando em reconstituição histórica, as locações não poderiam ser mais acertadas. A fictícia Monteriano ganhou vida fora das páginas do romance através da pequena cidade medieval de San Gimignano, na província de Siena, na Toscana. E não poderia ser diferente, já que E. M. Forster se inspirou nesta cidade situada no cume de uma colina para compor a sua Monteriano. No início dos anos 90, com suas torres remanescentes - assim como no romance - e arquitetura preservada, a cidade continuava remetendo totalmente à aura do livro.
Assisti Where Angels Fear to Tread pela primeira vez em 2018, antes de ler o livro, e já gostei bastante do filme. Após a leitura, revisitei-o e constatei a fidelidade à história original, o que me fez apreciá-lo ainda mais. Ao ler a obra, as representações dos personagens e cenários do filme já estavam incutidos em minha mente, mas tenho certeza que se tivesse assistido ao filme somente após a leitura, as imagens criadas no meu consciente se encaixariam perfeitamente àquelas apresentadas pelo filme. Para finalizar, apenas posso dizer que a adaptação menos prestigiada de um romance de Forster merece ser mais conhecida, pois é um filme respeitoso à obra do escritor e tentou, ao máximo, fazer jus à sua criação.
Imagens: Capturas de tela do acervo do blog.
1 comentários:
Esse filme possui legenda ou dublagem/
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