Em novembro de 1885, a escritora britânica Frances Hodgson Burnett começou a publicar de forma serializada na revista infantil americana St. Nicholas Magazine aquele que se tornaria um de seus trabalhos mais conhecidos: Little Lord Fauntleroy (O Pequeno Lorde, no Brasil). A obra tornou-se tão popular que influenciou a moda infantil, com as mães vestindo seus filhos como o protagonista Cedric Errol.
Ilustração de Reginald Birch para a 1ª edição do livro (1886) e Forster, aos 5 ou 6 anos, e sua mãe, em foto de W. J. Hawker.
"O que o conde viu foi uma figura graciosa de criança vestida em um terno de veludo preto, com gola de renda e cachos que balançavam emoldurando um rostinho bonito de menino, cujos olhos encontraram os dele com uma expressão de inocente camaradagem." (tradução de Tatiana Belinky, editora 34, 2002).
Tal descrição das vestimentas e aparência do personagem, somadas às primorosas ilustrações de Reginald Birch, fizeram incontáveis garotos serem transformados em pequenos lordes Fauntleroy. O traje e cabelo característicos foram extremamente populares nos Estados Unidos, mas também tiveram repercussões na Europa. E o pequeno Edward Morgan Forster não passou incólume por essa coqueluche.
A iniciativa de vesti-lo como o personagem não partiu de sua mãe, Lily, mas sim de sua tia-avó paterna Marianne Thornton - Monie para os familiares. Extremamente apegada à criança, a qual chamava O Importante (Important One), Marianne era uma obstinada entusiasta do estilo Fauntleroy. O biógrafo P. N. Furbank nos conta um pouco sobre isso em E. M. Forster: A Life (1977/1978).
Abraços de mãe e filho: a sra. Errol e Cedric, ilustrados por Graham Rust, e Forster e Lily, do mesmo ensaio de W. J. Hawker.
"Ele era uma criança bonita, com três ou quatro anos, olhos grandes e expressivos. Por insistência de Monie, ele usava o cabelo em cachos até os ombros e vestia ternos do Pequeno Lorde Fauntleroy com golas de renda; o próprio Forster disse que ele foi um dos últimos filhos a ser atormentado dessa maneira."
O comentário de Forster demonstra que ele não apreciava o famigerado visual e talvez isso se deva às zombarias dos primos:
"Ele às vezes se deparava com primos do sexo masculino no 'East Side' [casa de Marianne Thornton, também conhecida como Battersea Rise e The Cockpond], e então seus cachos e seu status de favorito como 'O Importante' o colocavam em apuros."
O pintor George Richmond, que já havia retratado Marianne, fez o mesmo com o jovem Forster. E é claro que a tia Monie insistiu que o retrato deveria se parecer o máximo possível com Little Lord Fauntleroy.
Especula-se que o estilo Fauntleroy encorajou muitas mães a vestirem os filhos com calções ou calças mais cedo do que a tradição (Breeching) determinava. Muito provavelmente a moda criada pelo personagem teve papel importante no declínio do uso de vestidos e saias por meninos. Detalhe interessante é que os trajes que Burnett popularizou foram baseadas nas roupas que ela mesma costurou para seus dois filhos, Vivian e Lionel.
Em tempo: Já tive a oportunidade de ler três livros de Frances Hodgson Burnett: o próprio O Pequeno Lorde, O Jardim Secreto (The Secret Garden) e A Princesinha (A Little Princess) e recomendo todos.
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