Maurice, a sequência

Somente há pouco tempo tomei conhecimento desta sequência de Maurice, de autoria de Louis R. Spickett. Maurice: A New Beginning foi publicado pela primeira vez em 2011 pela Heritage House Press e, aparentemente, a edição mais recente é da Austin Macauley Publishers Ltd., de 2016. A história retrata a evolução do relacionamento de Maurice e Alec e as dificuldades enfrentadas para mantê-lo numa época tão espinhosa e desfavorável ao amor entre iguais. 

O ano é 1920 e embora a guerra tenha acabado, Maurice e seus amigos estão lutando batalhas particulares. L. R. Spickett continua onde E. M. Forster parou em sua história original de amor proibido - Maurice. 

Em Maurice - A New Beginning, Maurice, recentemente de coração partido, teve outra chance de amar o belo, porém de classe baixa, Alec. Mas ainda há barreiras a superar - eles enfrentam obstáculos da família, dos amigos e da sociedade. 

Relacionamentos nunca são fáceis e em uma época em que a homossexualidade era considerada um ato criminoso, eles poderiam ser quase impossíveis. No entanto, quando um gentil casal entra em suas vidas, as coisas começam a melhorar e com determinação e o apoio de amigos, o amor parece prestes a vencer.

Quando li o trecho sobre o "gentil casal" logo associei a Edward Carpenter e George Merrill, as inspirações de Forster para escrever o romance. Imaginei que, assim como o escritor, Maurice e Alec tiveram o prazer de conhecer dois homens que conseguiam manter sua feliz vida de casal no campo, e que isso os motivou a fazer o mesmo. Ao conferir a prévia disponível no site da Amazon, percebi que minha suposição estava apenas parcialmente correta -  isso considerando que o tal casal é aquele apresentado no segundo capítulo. Apenas adianto que um personagem secundário do romance original parece ganhar bem mais destaque nesta sequência, revelando-se um inesperado aliado de Maurice e Alec. Ainda a respeito da prévia, achei os dois primeiros capítulos razoáveis, mas infelizmente não me remeteram ao estilo de Forster na maior parte do tempo, o que a princípio comprometeu a conexão com a nova história. 

Um dos motivos para Foster ter descartado o epílogo que escreveu para Maurice foi que os destinos dos personagens iriam recair, inevitavelmente, na Primeira Guerra Mundial, afinal, a data de ação do romance é 1912 e muito provavelmente se estende até 1914. Como apresentar desfechos felizes em pleno conflito de tais proporções? Spickett também pensou desta forma e tomou a liberdade de avançar no tempo e estabelecer o desfecho do romance original numa sombria noite de verão de 1920. Então, a partir deste momento, ele deu início à sua história. O autor começou a escrever a sequência em 1994 e a concluiu em 2011, dedicando-a ao seu parceiro de 50 anos, Leslie. 

Antes do primeiro capítulo, é apresentado um breve resumo de Maurice para os leitores que não leram o romance de Forster e não pude deixar de refletir sobre o contrassenso de fazer a leitura da sequência de uma obra sem antes ter lido a original. Para finalizar, só posso dizer que é inevitável ficar curioso em relação à sequência de um livro tão apreciado por mim e  que espero ter a oportunidade de lê-lo em breve.