É sempre prazeroso conhecer mais sobre livros pouco populares de E. M. Forster. Marianne Thornton: A Domestic Biography 1797-1887 (1956), o último livro publicado em vida pelo escritor, é uma dessas obras que não usufruem de muita notoriedade na coleção forsteriana.
Ann Kennedy Smith, uma escritora de biografias e não-ficção, acha que isso é uma pena e que esta obra assinada por Forster merece mais atenção. Para preencher um pouco essa lacuna, ela publicou um delicioso ensaio a respeito da biografia na edição de nº 58 da revista literária Slightly Foxed (capa ao lado), cuja finalidade é exatamente dar espaço para livros pouco conhecidos.
Antes de destacar alguns trechos que achei imensamente interessantes, relembro que Marianne Thornton foi tia-avó paterna de Forster. Edward Morgan Llewellyn Forster, o pai do escritor, era um dos dez filhos de Charles Forster e de Laura Thornton, irmã mais nova de Marianne.
"[...] Marianne nasceu em 1797, a mais velha de nove filhos de Henry Thornton, um rico banqueiro mercantil e membro do Parlamento, e de sua esposa Mary Ann Sykes. Seua lar era Battersea Rise, uma ampliada casa Queen Anne na extremidade noroeste de Clapham Common, no sul de Londres.
[...] Seu irmão Henry, três anos mais novo, era mais limitado, mas ambos administravam a família Thornton como um time. Juntos, eles lutaram para salvar o banco onde ele era sócio quando foi atingido por uma crise financeira em 1825: contada através das lembranças de Marianne, a história é tão emocionante e dramática quanto qualquer romance. Henry não lidou tão bem quando sua irmã mais nova, Laura, se apaixonou por um pobre clérigo irlandês. 'O dinheiro deve se casar com o dinheiro, como tem sido feito desde sempre', observa Forster secamente, e aplaude quando, graças a uma carta particularmente espinhosa de um bispo, o amor vence. Laura casou-se com o reverendo Charles Forster e, entre seus dez filhos criados numa reitoria 'feliz e insalubre' em Essex, estava Eddie, o futuro pai do escritor.
Marianne permaneceu solteira e se dedicou a Battersea Rise e aos três filhos de Henry depois que ele ficou viúvo. Os jovens Forsters vinham visitá-la muitas vezes e o jardim estava cheio de risos e brincadeiras. [...] Então, Henry se apaixonou por Emily, sua cunhada solteira, e tudo mudou. Seu casamento não foi sancionado sob a lei britânica existente (o Ato de Casamento de 1835 tornava ilegal que um homem se casasse com a irmã de sua falecida esposa) e o escândalo que se seguiu separou a família Thornton. A lei permaneceria inalterada até o século XX, e escrevendo em Cambridge na década de 1950, quando o amor homossexual ainda era proibido na Grã-Bretanha, a raiva de Forster passa rapidamente pela página. 'Foi', escreve ele, 'mais um exemplo da crueldade e estupidez da lei inglesa em matéria de sexo'. A desaprovação vitoriana fez o que Bonaparte e a crise bancária deixaram de fazer: destruiu Battersea Rise."
Leia o ensaio completo no blog de Ann Kennedy Smith - A Life of the Heart: E. M. Forster's Domestic Biography.
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