sábado, 13 de fevereiro de 2021

E. M. Forster & Harry Daley

O policial Harry Daley e um amigo, circa 1940. | Foto: Monty Glover.
O site do jornal Daily Mail publicou ontem um artigo sobre Harry Daley (1901-1971), agente da Polícia Metropolitana de Londres que manteve um relacionamento com E. M. Forster entre 1926 e 1932. 

A Dixon of Dock Green citada no título foi uma longeva série de TV britânica exibida entre 1955 a 1976, focada na rotina diária de uma delegacia de polícia fictícia, cujo personagem central era George Dixon. Harry Daley supostamente foi a inspiração para o protagonista, interpretado por Jack Warner. Uma informação complementar é que a palavra bobby mencionada no título é uma gíria para policial. 

Pois bem. Vamos aos principais trechos do artigo que citam E. M. Forster. O contexto é o ingresso de Daley no Bloomsbury Group:


"O sargento encarregado de sua casa de seção - o equivalente policial a quartel - foi inesperadamente tolerante com esses novos conhecidos exóticos, encorajando Daley a entretê-los no refeitório.

Certa noite, ele ofereceu-lhes um jantar de presunto e ovo antes de levá-los ao circo - uma noite agradável, mesmo que 'sua conversa alta e o casaco de pele de Raymond Mortimer causassem certa inquietação entre os policiais'.

Esses mesmos policiais também mostraram equanimidade quando Daley começou seu relacionamento com E. M. Forster e o levou para passar a noite em seu cubículo, separado de seus vizinhos por uma fina divisória.

De manhã, a lenda literária se juntava aos outros homens para uma fritada no refeitório e às vezes ele caminhava com Daley em seu último turno pelas ruas "desertas exceto por alguns carrinhos de mão" dos vendedores, deliciando-se com conversas com os tipos sombrios que assombravam a noite.

Como Forster uma vez confidenciou em seu diário trancado, que ele chamava de Sex Diary, ele queria 'amar um jovem forte das classes mais baixas e ser amado por ele', mas em Daley ele também obteve um encontro de mentes. Ambos amavam ópera e música clássica, com Daley extasiado ao ouvir Forster tocar uma sonata de Mozart ao piano.

'Foi um momento de ouro especialmente memorável porque, amante da música que era, Harry nunca tinha ouvido um piano tocado ao vivo', explicou Wendy Moffat, outra biógrafa de Forster.

Apesar dos interlúdios felizes, o relacionamento de seis anos naufragou quando Forster, com medo de que sua sexualidade se tornasse pública, percebeu que Daley era extremamente indiscreto.

Em 1932, ele recorreu a outro policial muito mais circunspecto chamado Bob Buckingham - uma escolha desagradável, visto que foi Daley quem os apresentou pela primeira vez.

A ruptura irritou Daley e ele começou a sentir, ou imaginar, hostilidade por parte de Forster e seus amigos - aumentando sua consciência de tensões sociais em sua amizade. Tudo isso levou a um esfriamento entre os dois homens e entre Daley e o grupo de Bloomsbury.

Daley parece nunca ter encontrado um relacionamento assim para si mesmo e o mais perto que ele chegou pode ter sido seu caso com E. M. Forster.

Eles se encontraram novamente em 1960, quando J. R. Ackerley ganhou um prêmio literário e os convidou para um jantar comemorativo no Savoy. Lá, Daley disse a Forster que estava escrevendo suas memórias, mas que ele não deveria se preocupar, pois havia se tornado discreto na velhice, e Forster respondeu que se tornara indiscreto na velhice, então Daley poderia escrever o que quisesse."


Recomendo fortemente a leitura integral do artigo de David Leafe.

P.S.: Entre as imagens que ilustram o artigo, me deparei com uma fotografia de Forster ainda inédita para mim. Já adicionei ao Álbum de E. M. Forster, na página do fotógrafo Cecil Beaton

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