terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Royal Society of Literature 200

Fundada em 1820 pelo Rei George IV com o propósito de "recompensar e estimular o mérito e talento literários", a Royal Society of Literature (RSL) está completando 200 anos. A sociedade bicentenária está sediada na Somerset House, em Londres, e é a principal organização literária da Grã-Bretanha. 

Em 10 de maio de 1961, E. M. Forster foi introduzido na sociedade como Companion of Literature, a maior honra concedida a um escritor. 24 anos antes, em 17 de fevereiro de 1937, a Royal Society of Literature o havia agraciado com a Medalha A. C. Benson. 

Para celebrar o aniversário, o Twitter do programa BBC Newsnight, da BBC Two, postou um vídeo da atriz Harriet Walter lendo um trecho de Howards End numa das edições da atração, destacando que Forster foi um dos primeiros a receber o título de Companion of Literature. A atriz de filmes como Sense and Sensibility (1995) e Atonement (2007) lê um dos fragmentos mais memoráveis da obra, presente no capítulo XXII. 


"Margaret saudou seu senhor com peculiar ternura na manhã seguinte. Por mais amadurecido que estivesse, ainda seria capaz de ajudá-lo a construir a ponte de arco-íris destinada a ligar a prosa que há em nós com a paixão. Sem ela somos fragmentos destituídos de sentido, metade monges, metade feras, arcos desunidos que jamais se ligaram para formar um homem. Com ela, nasce o amor, e pousa na curva mais alta, brilhando contra o cinza, sóbrio contra o fogo. [...]

Um difícil trajeto, percorrer as estradas da alma do sr. Wilcox. Desde a infância as negara. 'Não sou um sujeito que se preocupa com minha própria vida interior.' Por fora era alegre, confiável e corajoso; mas por dentro, tudo revertera ao caos, governado, na medida em que era governado, por um ascetismo incompleto. Fosse como menino, marido ou viúvo, sempre alimentara a crença não declarada de que a paixão corporal é ruim [...]

Não era capaz de ser como os santos e amar o infinito com um ardor seráfico, mas era capaz de sentir um pouco de vergonha de amar uma esposa. [...] E aqui Margaret esperava ajudá-lo.

Não parecia tão difícil. Não precisava incomodá-lo com nenhum dom seu. Apenas apontaria para a salvação latente em sua própria alma e na alma de todo homem. Ligue, simplesmente! Esse era o resumo de seu sermão. Ligue, simplesmente, a prosa e a paixão, e ambas serão exaltadas, e o amor humano será visto em seu máximo. Chega de viver em fragmentos. Ligue, simplesmente, e a fera e o monge, privados do isolamento que é a vida para cada um, morrerão." (tradução de Cássio de Arantes Leite, Globo, 2006)

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