O tradicional periódico britânico London Review of Books traz um artigo delicioso sobre E. M. Forster em sua mais recente edição (capa ao lado). O autor, Richard Shone, nos conta sobre quando conheceu Forster no King's College, numa tarde fria de novembro de 1968, apenas dois anos antes da morte do escritor. Shone estava no seu primeiro período de graduação na universidade.
Durante a conversa nos aposentos de Forster, os tópicos variaram das recém publicadas memórias póstumas de J. R. Ackerley, a Leonard Woolf e uma reprodução de Menino conduzindo um cavalo, de Picasso, exposta numa das paredes.
Em ocasiões posteriores, Shone escutou do próprio Forster algo que ele já tinha expressado em entrevistas: The Longest Journey era o romance cujo resultado o deixou mais feliz. A obra de 1907 também era a favorita do jovem estudante de gradução.
Não foi fácil pinçar apenas um trecho do excelente artigo, mas escolhi este a seguir sobre os últimos dias de Forster:
"[...] depois de uma série de pequenos derrames, Forster estava enfraquecendo. Uma noite, quando fui tomar um drinque com Nick Furbank (amigo de Forster e futuro biógrafo), encontrei o quarto vazio, mas o ouvi chamar dos aposentos de Forster logo acima. Ele encontrou Forster no chão do quarto. Ajudei Nick a conduzi-lo para a poltrona. Ele estava sorrindo e alerta e parecia preocupado apenas por ter interrompido a noite. Ele nos divertiu quando perguntou ao Nick o que havia feito com sua recente Ordem do Mérito, e recebeu a resposta de que estava em segurança na gaveta de meias. Forster acrescentou que deitar no chão tinha algumas vantagens: ele gostava do ponto de vista diferente.
Após um derrame final no King’s, no final de maio de 1970, Forster morreu em 7 de junho. Nick me escreveu sobre seus últimos dias e funeral:
'Ele estava preocupado e infeliz durante os últimos dias no King’s, depois do derrame, mas não pelo medo da morte, que ele sempre disse que não o assustava: tenho certeza de que era verdade. A pessoa se sente mal ao ver as coisas em seu quarto. Não é tão triste quanto eu pensei que poderia ter sido, pois parece que durante todos os seus últimos anos ele estava tranqüilamente colocando seus pertences em ordem - não em ordem de torta de maçã [ordem perfeita, impecável], sendo Morgan. Antes, ele deu uma última olhada, arrumou uma gaveta aqui, deixou uma etiqueta ou uma mensagem para um amigo ali, como uma atividade humana agradável e alegre.'"
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