quarta-feira, 16 de maio de 2018

E. M. Forster na The Paris Review

Na tarde de 20 de junho de 1952, em seus aposentos no King's College, E. M. Forster concedeu uma entrevista sobre o ofício de escritor, suas inspirações, motivações e as peculiaridades de suas criações literárias. Mas aquela não era uma entrevista qualquer. Era a primeira de mais de 300 entrevistas com escritores que seriam publicadas pela The Paris Review, uma das mais prestigiosas revistas literárias do mundo. Forster inaugurou a série Writers at Work na primeira edição do periódico, lançada na primavera de 1953. No rol de autores entrevistados pela The Paris Review estão nomes como Vladimir Nabokov, Elizabeth Bishop, Tennessee Williams, Jorge Luis Borges, Marguerite Yourcenar, Primo Levi e Salman Rushdie. 

E. M. Forster foi entrevistado por Philip Nicholas Furbank (P. N. Furbank) e R. J. H. Haskell. Furbank, um biógrafo, crítico e acadêmico inglês, é conhecido entre os admiradores de Forster. Amigo do escritor, ele escreveu uma de suas biografias mais conceituadas, E. M. Forster: A Life, publicada em duas partes em 1977 e 1978. Sobre Haskell, as informações na internet são praticamente inexistentes.

Comparada às entrevistas subsequentes, a entrevista de Forster traz respostas concisas. O escritor não concedeu declarações muito profundas, o que é pontuado na introdução. Contudo, é possível extrair informações e curiosidades deliciosas de suas palavras, como por exemplo, algumas dificuldades encontradas na abordagem de determinados personagens e as escolhas de nomes dos mesmos. Apenas uma prévia: você sabia que Adela Quested, de A Passage to India, se chamou Edith e posteriormente Janet nos rascunhos da obra?

As entrevistas em português

Infelizmente, E. M. Forster não foi agraciado com uma caricatura na capa de Escritores em Ação. | Foto: Lúcio Santos.


Em março deste ano, adquiri uma edição da editora Paz e Terra que reúne 14 entrevistas da Paris Review. Sob o título Escritores em Ação: as famosas entrevistas à Paris Review, o livro foi publicado em 1982, com tradução de Brenno Silveira e organização de Malcolm Cowley. Além de E. M. Forster, a obra concentra entrevistas de Alberto Moravia, Aldous Huxley, Ernest Hemingway, Ezra Pound, François Mauriac, Françoise Sagan, Georges Simenon, Henry Miller, Lawrence Durrell, Mary McCarthy, T. S. Eliot, Truman Capote e William Faulkner. Apesar de ter sido a primeira entrevista publicada pela Paris Review, a de Forster é a última do livro. A primeira edição desta obra foi publicada em 1968.

No prefácio, assinado pelo coordenador da edição, Malcolm Cowley, há informações valiosas sobre como surgiu a ideia de convidar Forster para ser o primeiro entrevistado do periódico e a influência que o formato de sua entrevista exerceu sobre as seguintes.
"A série de entrevistas foi, a princípio, encarada apenas como outra invenção - mais digna e talvez, também, mais eficiente - para aumentar a circulação da revista. Esta precisava de nomes famosos na capa, mas não podia pagar a colaboração de autores famosos. "Já que assim é, conversemos com eles", aventurou-se a sugerir alguém. Teria de ser Peter Matthiessen ou Harold Humes, já que haviam elaborado os primeiros planos para a Review. "E publiquemos  o que eles disserem." A ideia foi discutida com George Plimpton, que pertencera ao Harvard Lampoon, e que concordara em ser editor. Plimpton achava-se, então, no King's College, Cambridge, e sugeriu a pessoa de E. M. Forster, um fellow¹ honorário do King's, como sendo a primeira pessoa a ser entrevistada. Foi o próprio Forster quem deu nova orientação à série de entrevistas, convertendo-a numa discussão mais profunda da arte da ficção do que a que havia sido, a princípio, planejada. Forster começou por dizer que responderia as perguntas, se estas lhe fossem apresentadas de antemão, de modo que pudesse meditar sobre elas. As perguntas foram-lhe apresentadas e, decorridos poucos dias, quando os entrevistadores apareceram, Forster deu suas respostas de modo tão lento e sistemático, que seus visitantes não tiveram dificuldade alguma em acompanhá-lo. Foi uma entrevista simples de se transcrever, fornecendo o melhor dos modelos para a série de entrevistas que se seguiu." (págs. 3 e 4, tradução de Brenno Silveira, Paz e Terra, 1982)

¹ Graduado que recebe subvenção da universidade para se dedicar a estudos ou pesquisas. - (N. do T.)

Seis anos depois da editora Paz e Terra, a Companhia das Letras também publicou uma seleção das entrevistas da revista literária. Com o título Os Escritores: as Históricas Entrevistas da Paris Review, o livro foi republicado em anos subsequentes. A mais recente reedição - com o título simplificado As Entrevistas da Paris Review - foi lançada em 2012. Infelizmente, a entrevista de Forster não foi incluída nestas últimas reedições.

Finda a introdução, confira agora, no nosso próximo post, a entrevista completa de E. M. Forster para a Paris Review. Aproveite a leitura!

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