terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Forster na academia

Recebi do leitor Sérgio Tadeu Guimarães, uma dica de material acadêmico cujo tema não costuma ser muito abordado em obras na língua portuguesa. Trata-se "E. M. Forster além do romancista: os meios de comunicação e o intelectual no cenário europeu das décadas de 1920 e 1930", de autoria do historiador e pesquisador Wendell Ramos Maia. Este artigo lança luz sobre a atuação de Forster no debate público e na defesa das liberdades individuais, durante o adverso período entre-guerras. A leitura é bastante enriquecedora e traz ainda trechos dos diários pessoais do escritor. Obrigado ao Sérgio Tadeu Guimarães pela indicação e ao Wendell Ramos Maia pela atenção e autorização para publicar alguns trechos que pincei e destaco mais abaixo.

O artigo completo integra os Anais: XIX Semana de História da UNESP. História, leitura e cultura midiática, disponíveis neste link. O artigo inicia na página 270.
MAIA, Wendell Ramos. E. M. Forster além do romancista: os meios de comunicação e o intelectual no cenário europeu das décadas de 1920 e 1930. In: Anais: XIX Semana de História da UNESP: História, leitura e cultura midiática – 10 a 12 de setembro 2013. Guimarães, Valéria & Viotti, Ana Carolina (orgs). UNESP/FCHC, Franca, São Paulo, Brasil, 2014, 270-285 p.

Resumo:
Depois de uma carreira bem sucedida como romancista profissional, que se encerrou com a publicação de A Passage to India, em 1924, o escritor inglês Edward Morgan Forster (1870-1979), saiu de sua torre de marfim por força das circunstâncias. Empurrado por uma conjuntura política e social adversa, como o foram as décadas de 1920 e 1930 na Europa, ele se lançou nos meios de comunicação a que tinha acesso, o rádio e a imprensa, para  participar do debate público a respeito de uma série de questões que eram de seu interesse, em especial, a defesa das liberdades individuais. E esse é nosso objetivo, frisar alguns aspectos desse processo, como sua atuação na imprensa e a defesa que fez da liberdade de expressão contra a censura, sua eleição como presidente do Conselho para as Liberdades Civis, em 1934, e sua ida a Paris no Congresso Internacional dos Escritores, em 1935.

Alguns trechos:
"Se antes ele criticava alguns aspectos e vícios de sua sociedade em seus romances de maneira velada, agora ele falaria abertamente deles. Se antes ele ignorava a política, agora ele não parecia propenso a fazê-lo — ''personagens não podem vir à vida, lutar ou guiar o mundo''¹, como ele escreveu, em 1943, em seu Commonplace Book. Como a literatura não lhe parecia o mecanismo e nem o veículo mais adequado para enfrentar a conjuntura que se apresentava diante dele, e como se o mundo conspirasse a seu favor, havia, à época, outros meios para se expressar que não ela — a imprensa e o rádio — que ele não hesitou em usar." (p.277)

"É interessante pensar que um homem que no período em que estava em Cambridge não discutia e pouco se dava com política agora estivesse disposto a discutir até mesmo política internacional." (p.278)

''Eu me importo com a preservação e a extensão da liberdade,'' disse ele em seu discurso. E acrescenta: ''E vim a esse congresso, principalmente, para ouvir o que esta acontecendo e o que estão sofrendo em outros lugares. Em meu país nós também estamos vivendo um tempo ruim, e eu não tenho dúvidas quanto a isso.''² (p.283)

¹ FORSTER, Edward Morgan. Commonplace Book. London: Wildwood House, 1987, p.150-151.
² FORSTER, Edward Morgan. Abinger Harvest. London: Edward Arnold, 1946, p.63. 

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