Imagem: IMDB. |
Assistir a primeira adaptação de A Passage to India, que foi exibida originalmente em 1965, parecia algo bem distante até pouco tempo atrás. Porém, como informei no post anterior, o episódio da série BBC Play of the Month (1965-1983) surpreendentemente foi disponibilizado no Youtube para o prazer dos apreciadores de adaptações forsterianas. Isso reacende as esperanças de que tenhamos acesso aos outros episódios da série baseados em obras do escritor, como Where Angels Fear to Tread (1966), Howards End (1970) e A Room with a View (1973).
Assim que possível, assisti A Passage to India e neste post traço algumas impressões desta adaptação sessentista, exibida há quase 55 anos. Antes de qualquer coisa, é necessário ter em mente que se trata de uma produção para a televisão e que, diferentemente de hoje em dia, quando são realizadas séries de TV milionárias, naquela época a realidade era outra. Haviam limitações de orçamento que impactavam nos níveis de produção e resultados finais.
Como o próprio nome da série indica, um episódio era exibido a cada mês e A Passage to India foi apresentado logo no início da primeira temporada, como o segundo episódio da série em 16 de novembro de 1965. A produção da BBC é uma versão da peça escrita pela dramaturga indiana-americana Santha Rama Rau (1923-2009), baseada no romance de Forster, que estreou na Inglaterra em 1960. Por conta disso, o estilo da adaptação é visivelmente mais teatral.
Como o próprio nome da série indica, um episódio era exibido a cada mês e A Passage to India foi apresentado logo no início da primeira temporada, como o segundo episódio da série em 16 de novembro de 1965. A produção da BBC é uma versão da peça escrita pela dramaturga indiana-americana Santha Rama Rau (1923-2009), baseada no romance de Forster, que estreou na Inglaterra em 1960. Por conta disso, o estilo da adaptação é visivelmente mais teatral.
O primeiro encontro de Dr. Aziz (Zia Mohyeddin) e Mrs. Moore (Sybil Thorndike), numa mesquita de Chandrapore..
Logo nos primeiros segundos, nos deparamos com Zia Mohyeddin como Dr. Aziz. O ator britânico-paquistanês já estava familiarizado com o papel, pois já o interpretava na peça de Santha Rama Rau desde o início daquela década. A cena inicial se passa na mesquita - que dá nome à parte I do livro - e traz o primeiro encontro de Dr. Aziz e Mrs. Moore, interpretada pela dama Sybil Thorndike. É uma das mais curtas do episódio, que geralmente lança mão de longas tomadas num mesmo cenário, porém com alguma rotatividade de personagens.
Exemplo disso é a cena imediatamente seguinte. São quase 30 minutos de ação na sala dos alojamentos de Mr. Fielding (Cyril Cusack) no colégio de Chandrapore, em que vão sendo adicionados e subtraídos personagens durante as cenas. O cenário é amplamente aproveitado para diferentes situações e esta longa permanência no mesmo local acaba tornando o desenvolvimento um pouco tedioso.
Dr. Aziz, Mrs. Moore, Adela (Virginia McKenna) e professor Godbole (Michael Bates) visitam Mr. Fielding (Cyril Cusack).
Esta cena da visita de Aziz, Mrs. Moore, Adela Quested (Virginia McKenna) e professor Godbole (Michael Bates) a Mr. Fielding ocorre no capítulo VII da obra literária e felizmente a adaptação televisiva incluiu o interessante trecho final em que Godbole interpreta uma canção de seu país. Na tela, o momento é acompanhado por imagens de cidadãos indianos, o que resulta numa bela e singular cena.
Enquanto professor Godbole entoa uma canção, imagens de indianos aparecem na tela.
Diante do que foi exposto anteriormente, você já deve imaginar que as cenas externas são raras nesta adaptação. Na verdade, a única existente é a emblemática visita de Aziz, Mrs. Moore e Adela Quested às cavernas de Marabar. E ainda não estou totalmente convencido de que se trata de uma cena externa, visto que em alguns momentos a impressão é de que a gravação ocorreu num simulacro de local aberto. Os planos de localização que mostram paisagens indianas durante os rápidos intervalos de cenas poderiam ter sido melhor explorados, dada a beleza dos panoramas.
As reações de Dr. Aziz, Mrs. Moore e Adela no interior das cavernas de Marabar, em Chandrapore.
As cenas seguintes retratam as reações da comunidade inglesa ao ocorrido com Adela Quested nas cavernas de Marabar e o julgamento de Aziz. Desta forma, o episódio pode ser dividido em cinco momentos: o primeiro encontro de Aziz e Mrs. Moore, a visita a Mr. Fielding (quando Aziz e Adela se conhecem e surge o convite para a visita às cavernas), a excursão às cavernas de Marabar, a reação dos ingleses e o julgamento. É tudo bem definido no enredo.
Apesar da pouca variedade de cenários, o trabalho de cenografia não deixa a desejar, com destaque para os alojamentos de Mr. Fielding. O elenco competente enriquece a adaptação, fazendo jus às essências dos personagens criados por Forster. Zia Mohyeddin dá vida a Aziz de forma calorosa, passional e loquaz como pede o papel, enquanto Sybil Thorndike dispensa comentários. Foi um prazer assistir mais uma produção com Virginia McKenna, após apreciar suas atuações em Born Free (1966) e Ring of Bright Water (1969). Duas curiosidades a respeito do elenco são que Saeed Jaffrey, que interpretou Hamidullah, repetiu o papel no filme dirigido por David Lean em 1984. Já Ishaq Bux que deu vida a Qasim Ali em 1965, interpretou Selim no filme citado.
É claro que o episódio da série da BBC é infinitamente mais modesto que a megaprodução lançada quase 20 anos depois que, diga-se de passagem, teve um orçamento de 16 milhões de dólares. Com tamanho investimento, acompanhado de vários outros acertos, este filme é a melhor adaptação de A Passage to India já realizada, porém, a produção de 1965 certamente tem seus méritos e merece deferência por ter sido a pioneira nas telas.
O jovem do punkah faz seu trabalho silenciosamente durante o julgamento de Dr. Aziz.
Um elogio final que pode ser feito à adaptação diz respeito à cena derradeira que realçou um personagem sem nome específico, apenas conhecido como "o homem que movia o punkah", mas que no episódio é interpretado por um jovem rapaz. Descrito por Forster como a pessoa "mais humilde de todas as presentes" no julgamento, tal homem pode ser invisível para os ingleses e indianos presentes à cena, mas certamente captura a atenção do espectador por seu olhar distante e alheio - será mesmo? - a todo o simbolismo cultural à sua volta.
Imagens: Capturas de tela do acervo do blog.
Imagens: Capturas de tela do acervo do blog.
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